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Chico Buarque: Leite Derramado
artigo [ Livros ]
books

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por [Bernadete_Piassa ]

2009-08-09  |     | 



Leite Derramado, livro do escritor, músico e dramaturgo Francisco Buarque de Hollanda, foi lançado em português em 2009 e será traduzido brevemente em italiano. Chico, como o autor é carinhosamente conhecido pelos brasileiros, nasceu no Rio de Janeiro em 1944. Cantor e compositor, publicou várias peças de teatro. Publicou também os romances Estorvo (1991), Benjamim (1995) e Budapeste (2003).

Com Leite Derramado, Chico atinge o ponto alto de sua produção literária. Numa prosa elegante, poética e simples, ele narra a saga dos Assumpção, família de elite brasileira liderada pelo moribundo Eulálio Montenegro d'Assumpção. Do seu leito de morte, Eulálio narra, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência.

Mas Leite Derramado não trata apenas da história do Brasil. Matilde, a mulher que Eulálio nunca pôde esquecer, aparece sempre presente. Matilde que tinha pele quase castanha e que, por causa disso, a mãe de Eulálio quer saber se ela não tem “cheiro de corpo.” Matilde que se veste em vestidos espalhafatosos, adora dançar e desaparece da história de repente, sem que o leitor entenda o porquê como Eulálio também nunca entendeu. Desde o começo, o amor dos dois tem cheiro de desastre. Mas, quando Matilde desaparece, ela não morre. Torna-se inesquecível.

A fala desarticulada de Eulálio, ao mesmo tempo que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. No entanto, mesmo que a narrativa seja disarticulada, tudo no texto é conciso e preciso. Como num quebra-cabeça, todas as peças se encaixam perfeitamente.

Chico cria um bom número de personagens saborosos, realistas mas, ao mesmo tempo, engraçados e caricatos. Há a figura da mãe, podre de elitista, que pede até para passar o saleiro em francês; o arrogante engenheiro francês, que reage a tudo com um “merde alors”; a filha Maria Eulália que vai decaíndo na escada social a cada paixão e arrastando com ela o pai; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. Todos personagens convincentes que deliciam o leitor.

Leite derramado mostra também o tempo perdido e irrecuperável da vida do narrador. No começo, há riqueza e opulência. Mais tarde, os bens vão se esvaindo. Finalmente, reina a pobreza total mas sem aceitação. O livro é um exemplo da decadência de uma geração e pode ser ilustrado com a frase: avô rico, filho doutor, neto mendigo.
A prosa de Chico mistura realidade e fantasia, indo de uma para outra sem confundir o leitor. No seu leito de morte, Eulálio reclama do hospital e quer ver sua chapa do pulmão. Logo em seguida pede ao doutor pra ir na casa dele pegar umas fotografias e embarca novamente nas suas lembranças. A poesia do romance encanta o leitor desde o começo. No primeiro capítulo, Eulálio “vai topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costume sonhar em preto-e-branco.”

A crítica a Leite Derramado não foi unânime no Brasil. Houve quem elogiasse e quem destruísse o livro com violência. Chico é uma figura emblemática, símbolo sexual, conhecido mais como compositor do que como escritor. Alguns críticos prefeririam que ele tivesse ficado na arena em que dominava, sem se intrometer no mundo dos livros. Mas é inegável que o Chico autor tem tanto talento quanto o Chico compositor.

O estilo de Chico é coloquial e harmonioso, por vezes satírico. Apesar de Eulálio estar na cama de um hospital, a beira da morte, cercado por indigentes e enfermeiras que só querem levá-lo de um lado para outro para fazer exames, ele conserva, até o fim, sua dignidade. Por meio das suas lembranças, ele resgata o passado e consegue fazer com que seu presente torne-se suportável. Apesar do leitor sentir pena de Eulálio, de certa maneira sente-se também seu cúmplice porque percebe que Eulálio conseguiu escapar de toda a mesquinharia que o cerca nas asas da sua imaginação: “Quando amanhã minha cama amanhecer vazia, muitos aqui farão o sinal-da-cruz, pensando no pior. Mas não se aflijam por mim, pois estarei chupando uvas em Copacabana, numa sala com vista para a praia.”

Leite Derramado é um romance que prende o leitor do começo ao fim. Poético e profundo, revela um escritor maduro e em posse de todas as suas capacidades criativas.

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