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Cantos de Tuaiá
crônica [ ]

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por [Duquinho ]

2010-09-23  |     | 



CANTOS DE TUAIÁ

Antônio Carlos Duques

Meus poemas serão publicados como “Cantos de Tuaiá” Prometeu-me o poeta Odmar Braga, traduzir alguns em hebraico e ladino. Que os ventos se mostrem favoráveis, é um antigo sonho.
Pois que fundei um quilombo em Tuaiá. Um refúgio, um centro íntimo de combates eternos e ternos, um não desistir nunca dos sonhos mais vivos.
Nele há muito de geografia, particularmente a geografia íntima. Um ponto longínquo bem adentro de mim, por traz dos códigos genéticos, das construções de muralhas atávicas ancestrais, para além das estruturas límbicas. Também um ponto longínquo para além das tradições obsoletas, tabus castradores, burkas sociais dos códigos de crueldades e tormentos das raposas que sugam o sangue da terra, das servidões autofágicas que rasgam todas as cartas de marear.
Nossas vidas são duplicatas ontológicas do oroboros, a serpente védica mitológica que devora-se a si mesma engolindo o próprio rabo, e não para de crescer. Eterno vir-a-ser das derrotas diamantinas, das portas e punhos de aço fechados, das noites eternas dos rancores secretos que afloram nas vidas de todos como raiz do fracasso de toda sisudez.
Quero confrontar a sisudez e o ensimesmamento. O ensimesmamento é ponto de partida do desfazer-se, do desistir, do desconstruir, do desferir.
A sisudez é arqueologia de inutilidades grandiloqüentes, dos arranjos posturais que carimbam indignidades fugazes, o pelourinho de toda criança.
O amanhecer, o anoitecer, o tempo a historia, a morte, o renascimento, os mistérios e as incógnitas eternas resumem-se numa letra perdida nos meus cânticos...que possam encontra-la. Ela foi escrita por mãos de criança e ancião em papel vazio, no sentido de vaso, recepção, reverencias ao Rav. Michael Leitman, Dogen, Jean Zigler, Tokuda Igarashi, Giliate Mokudo.
Quero registrar meu maior espanto. Confronto-me com a “Cronica Paudarquense”, de Augusto dos Anjos. “Dest' arte a Humanidade , em sua essência, constituiria um só individuo”....”...uma alegria forte varrendo o ar, numa larga escala estridente, precursora da concórdia amorosa que há de reinar entre os homens, depurando-lhes as idéias na têmpera acesa do altruísmo.”....” porque nesse tempo ja terão morrido os instintos de iniqüidade humilhante, e o gênero humano, sob a égide da conexão cosmopolita, não terá mais de revolver monturos para mostrar escórias à face escandalosa do Sol”.
Meu espanto é moeda. A outra face é o “flirt”
Em comum com Augusto, moramos sem nenhuma moeda no bolso, na mesma rua: Rua Direita, bairro de São José, Recife
Mas nossa grande vizinhança é um enorme celeiro. Pois que somos góticos estridentes. Tal qual o martelo de Nietzsche na bigorna do nosso pequeno-grande mundo.
“Cantos de Tuaiá” é fragmento do celeiro. Feito para curtir, nunca propriamente lê-lo. Curti-lo com uma boa cachaça, em comunhão de alho e pimenta.
Preferencialmente em Tuaiá mesmo, esse novo Woodstock mítico, de onde sairão os ventos torrenciais que “desenterrem “do chão da Hebréia, a lira sepulcral do poeta profeta”.
Em tempos de “singularidade tecnológica” no conceito de Verne Vinge e Ray Kurtzweil, cada instituição e cada aspecto da vida humana estão se transformando para delírio de futuristas, ou melhor ainda na fundamentação de novas ontologias filosóficas e novas éticas informacionais, base do conceito de unidade da natureza em escala nano, a unidade do orgânico, do inorgânico e do espiritual em nível quântico. O surgimento de novas Humanidades, vem paralelo a antevisão dos mundos infinitos, guardando interfaces com o pensamento de Deleuze, Guatari, Toffler e Thomas Hanna.
Verso de William Blake, Augusto dos Anjos e Erickson Luna guardam surpreendente sincronismo com estas visões e estes mundos.
Marteladas nietzscheanas nos anacronismos e arqueologismos da vida global, que poluem o ar livre das sínteses e das pluralidades. A toda essa parateatralidade discursiva fingitoria e ambivalente que prevalece do homem comum aos príncipes. Fingitórias, tirante Fernando Pessoa e Shun Tzu.
Minhas lentes são as do “cachorro velho” da “louca sabedoria” do cohan varayana, prenhe de embriagues dionisíaca e vigilância apolínea.
Tradução do nojo pelas maquetes salvadoras, onde o deus é a crueldade pela crueldade, o receber por receber, tudo desamparado.
Parafraseando Stanlilavski, exponho meu “drama” no sentido do “eu faço”, a ação centrada nos movimentos e impulsos interiores, dedo médio em riste.
Esta é a cachaça com ervas aromáticas do Quilombo de Tuaiá. Não recomento consumo moderado, mas uma resoluta imoderação juvenil, com intervalos de sopro de criança no contexto desta “convergência “nano-bio-info-tecno-cogno-sexy-poetica”.

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