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■ A 8th Bienal do Douro sem limites
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- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2009-09-21 | | Era um vez, num reino não muito distante, de vastos quintais e muitas estrelas, um menino chamado Pinóquio. O menino, embora não mentisse, não esticasse o nariz, e não fosse de madeira, também não era todo de verdade. Faltava-lhe algo, um pequeno detalhe, que mesmo ele, às vezes diante do espelho pela manhã, nunca soube descobrir; assim, toda tarde, enquanto observava o Sol se por no horizonte, sentia uma tristeza esquisita tomar conta de seu coração. “O que me falta?” - pensava o menino. “Tenho amigos sinceros, pessoas em quem posso confiar, trabalho, uma boa família... O que me falta?”- perguntou mais uma vez. Com o anoitecer, o jovem Pinóquio, pensou que se conhecesse os mistérios do mundo, poderia apagar essa tristeza. Seu pai, contratou os melhores professores do reino, e encheu o quarto do menino de livros de poesia, ciências, filosofia, literatura e tudo que havia de mais significativo sobre todas as coisas. Pinóquio passava noites e noites em claro, aprendendo tudo sobre o mundo, e de alguma forma, aquela estranha tristeza não mais o afetava. Porém, era só um alívio passageiro, pois quando finalmente aprendeu tudo que os mestres puderam lhe ensinar, Pinóquio foi tomado por aquela inquietude de um jeito ainda mais forte. “O que me falta? Conheço as coisas que podem ser conhecidas, sei fazer contas de cabeça e calcular a distância dos planetas; sei de tantas coisas quanto podem ser sabidas, e ainda sim, meu coração não está em paz?” Foi então que o impulso brotou dentre de si: ele queria ter voz, tinha coisas a dizer, tinha que expressar o modo como mundo lhe afetava. Sentindo umas formiguinhas alvoradas na sua alma, recolheu uma velha máquina de escrever no porão de sua casa, e decidiu escrever. Durante muito tempo o jovem Pinóquio construiu um mundo de palavras onde finalmente sentiu um pouco de paz. Noites a fio, ele arrancava das folhas em branco, lugares, pessoas, imagens e pensamentos que passaram a existir fora dele. Mas isso também era ilusão, quando vinha o pôr-do-sol, aquele aperto esquisito comprimia seu peito. Certa manhã, uma ventania invadiu o reino de supetão, derrubando árvores, e atiçando cachorros. A janela do quarto de Pinóquio estava aberta, sendo assim, aquele sopro de ar roubou-lhe um pequeno fragmento de folha, que plainou pelo céu até sumir, sem que ele percebesse. A vida do menino continuou a mesma: saía com seus amigos, arranjava namoradas, trabalhava, e escrevia toda a noite na velha máquina de escrever. Num belo dia, no entanto, enquanto observa as coisas da janela de sua casa, avistou um pombo correio no céu bater asas na sua direção. Quando a ave pousou na sua janela, o jovem garoto ficou curioso, e rapidamente retirou a mensagem que dizia: “Pinóquio, Suas palavras chegaram até mim, através do vento. Confesso que adorei seu modo de ver as coisas. Sua fã Menina-de-Lata” Meio sem saber o que fazer, o jovem garoto coçou a cabeça e colocou-se a pensar. Prendeu o pombo debaixo do braço, caminhou até a máquina, puxou uma folha e escreveu um pequeno bilhete: “Menina-de-Lata, Você é muito gentil. Minhas palavras são tão minhas, que às vezes não fazem sentido sequer para mim mesmo. Mas já que lhe agradam lhe enviarei mais. Pinóquio” O pombo partiu das mãos do menino e desapareceu no céu. Pinóquio sentou-se na cama e teve uma estranha sensação. Não uma sensação como aquela de todas as tardes, de certa forma era seu exato contrário que começava a nascer. Durante algum tempo eles trocaram breves mensagens, depois viram a foto um do outro, até que um dia, Pinóquio não conseguiu dormir. Ficou olhando as estrelas durante toda noite. A imagem da Menina-de-Lata não saia de sua cabeça. Lembrou-se então, de um antigo encanto que lera num livro de alquimia. Chamava-se “A Janela”. Segundo constava no livro, as pessoas distantes podiam se ver, através de dois espelhos. Pinóquio escreveu as instruções num bilhete que o pombo levou ligeiro pelo céu, como se soubesse da importância daquela mensagem. A meia-noite, exatamente, Pinóquio e a Menina-de-Lata, deveriam pronunciar o nome um do outro sete vezes diante do espelho. Quando o sino da Igreja bateu as doze badaladas, ambos com os espelhos posicionados, Pinóquio viu, lentamente, seu reflexo ser substituído pela imagem da menina. Como o encanto trazia só a imagem da pessoa ausente, para se comunicarem, cada um, havia de usar um caderno, onde as mensagens eram escritas e mostradas para outro através do espelho. E de alguma forma, naquele silêncio o menino tinha a impressão de ouvir a voz da moça brotar das letras e ecoar dentro de si. Infelizmente, a duração do feitiço era breve: quando o relógio bateu uma hora, a imagem da menina sumiu no espelho e Pinóquio tentou inutilmente agarrar-lhe pra junto de si, encontrado apenas o vidro frio e o próprio reflexo. Daquele momento em diante, o jovem se viu tomado por uma coisa que nunca havia experimentado em toda sua vida. Sentiu-se estranho e ridículo, porque percebeu, que era a Menina-de-Lata, a desconhecida admiradora, que ele havia presenciado apenas o reflexo, que lhe faltava. E aquela tristeza esquisita que lhe o consumia todos os dias no pôr-do-sol, que nada podia preencher, era ausência dela que já estava presente nele desde sempre. Era saudade daquela desconhecida, que ele sentia, foi como lembra-se de uma memória distante. O jovem então jogou uma mochila nas costas, desceu correndo as escadas da casa, e partiu em sua bicicleta, pela estrada de terra, cercada de grama, e pequenos arbustos: enquanto o sol se punha no horizonte. Pinóquio contemplou o céu alaranjado e sorriu. |
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