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A Casa da Mesa Tombada
crônica [ ]

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por [silviocorrea ]

2009-08-17  |     | 



Bem no alto — assim parecia —, no topo da colina do Esqueleto, ficava a Casa da Mesa Tombada. É verdade que antes dessa história, que agora conto, era apenas a casa do eco. Fui lá bisbilhotar, pois parecia vazia por dentro e pelos quatro lados. Apenas o lago à frente, enchia na época de chuva. Achei que perigo não teria.

O portão, de ferro pintado, descascado pela intempérie, deslizou suave quando o empurrei.

Era uma casa estranha! Tal qual sendo expulsa pela terra, as paredes subiam, como se quisessem sair dali. Existiam frestas entre o piso e a parede. O chão, de um branco desmaiado, imprimia a sensação de que sempre foi sujo, ainda que ao toque do dedo, não tivesse uma única poeira.

— Casa estranha! Parece habitada! — pensei.

— Alô!

— Alô! — Hihihihihihihi.

— Tem alguém aí?

— Tem alguém aí? — Hihihihihihi.

— Esqueci! A casa do eco! Mas e o riso de criança? De onde vem?

O mofo subia pelas paredes, deixando a casa úmida, com cheiro de terra velha e molhada. Em alguns pontos do piso, pequenas depressões, provocadas pelas goteiras que pingavam … pingavam … pingavam …

Subi ao segundo andar. Manchas negras nos tetos, indicavam o avanço da umidade e da deteriorização. Meias espalhadas, roupas amontoadas. E o som do riso de criança. “Parece que vem de fora — pensei!”

Com cuidado fui descendo a escada coberta de limo. Do degrau do meio, eu avistei! Uma mesa tombada! Três pernas onde deveriam ter quatro! Tombava, mas não caía! Como se um pé invisível calçasse aquele lado da mesa.

— Que coisa estranha!

— Que coisa estranha!

Do lado da mesa, um animal amarronzado, com enormes orelhas, lembrava uma hiena que não “ria”. Eu, muito menos!

Nada, nenhum fio escondido, nenhum apoio! A mesa tombava mas não caia! “Que equilíbrio será esse? — falei comigo.”

A criança ria, a parede chorava e o teto lacrimejava. O animal marrom balançava o rabo.

A porta dos fundos rangeu quando a abri. Procurei, na área de serviço, um pedaço de madeira ou alguma coisa que eu pudesse utilizar como o quarto pé daquela mesa tombada. A situação me irritava de uma tal maneira! Eu precisava pensar! Precisava fazer algo!

Do ponto em que eu estava, nos fundos, a casa parecia tombar para o outro lado.

— Será que é isso que está causando o equilíbrio da mesa?

— … da mesa?

Àquela altura, eu me sentia tombado! Parecia que tudo estava num equilíbrio muito delicado. Qualquer movimento mais brusco faria aquele estranho sistema ruir. O riso de criança, agora lá fora, claramente, parecia estar mais vigoroso.

— Mas como poderia não ter percebido esse tênue equilíbrio quando estava fora da casa?

— … da casa?

Dizem que quem está fora, consegue ver tudo diferente e as soluções parecem ser mais fáceis. Então, eu precisava sair.

Eu precisava sair da casa ou ruiria junto. A perspicácia, naquele momento, era uma competência fundamental. Não poderia me deixar envolver por aquele falso equilíbrio. Tudo balangava perigosamente. Lá fora, tudo parecia estar em ordem. Dentro, as cenas eram velozes, fugazes, frenéticas!

Alguém, do lado de lá, de fora, precisava me ajudar. Mas eu não tinha ninguém lá!

Não podia perder tempo! A casa me mostrava alguma coisa que eu não entendia e não podia, ou não conseguia, controlar.

— O riso? Sim, o riso; a criança! Ela está lá fora! Eu preciso que me ajude!

— Hei! Criança! Criança! — chamei-a.

— … ança!

Tímida, do lado de fora, além do portão, ela surgiu. A minha criança surgiu! Procurou me ajudar, mas, no início, eu não entendi o que procurava me dizer.

Avançou pelo portão, enquanto gesticulava. Tentava me mostrar alguma coisa! Um caminho! Sim, um caminho! Estava me mostrando como sair dali! O caminho que não perturbaria o equilíbrio.

A criança veio em minha direção, sorrindo e sumiu! Então eu vi a saída! Clara; tão clara que eu não entendo como não a percebi.

Do lado de fora, tudo estava em ordem, em equilíbrio. A casa parecia menos assustadora do que por dentro.

Acho que as vezes precisamos nos distanciar um pouco, para entender o que acontece. O que parece confuso, até insolúvel, quando estamos participando, torna-se mais claro quando observamos, estando afastados.

Acho que aprendi alguma coisa!

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