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■ A 8th Bienal do Douro sem limites
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- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2009-08-06 | |
Quando ela chegou à festa e entrou na sala, os homens se imobilizaram com os copos no ar, por um momento esquecidos dos seus drinques, esquecidos da conversa, conscientes apenas da magia que a envolvia. Ela andava devagar, a cabeça levantada com orgulho e, ao mesmo tempo, modéstia. Seus cabelos longos e cacheados lembravam folhas douradas balançando ao vento. Seu rosto, aberto num sorriso tímido que realçava as formas perfeitas da sua boca, era inocente e esperançoso. Nos seus olhos eles podiam ver todo o azul do mar, o brilho do mar, as brincadeiras do mar, a calma do mar num dia de sol. No seu corpo, longo e esguio, protegido por um vestido branco, solto como a brisa da manhã, eles podiam imaginar todos os prazeres de um baú de tesouros pronto pra ser descoberto.
Ele estava lá. Ele a viu e ficou fascinado por ela. Sentiu um desejo muito forte de protegê-la, de tomá-la nos braços e embalá-la com canções de ninar porque sabia que a inocência dela era muito preciosa e frágil para durar para sempre. Logo ela seria machucada por alguém, seu coração seria estraçalhado, sua inocência se esvaeceria nas garras da malícia. Sorrindo ingenuamente, ele a levou até o terraço do seu apartamento onde a convidou para admirar o céu estrelado e o Central Park abaixo, um oásis silencioso no meio de Manhattan. Segurando-a gentilmente pelo braço, confessou seus sonhos de ver o parque sem mendigos e cheio de crianças brincando e sorrindo. Tomando-a pela mão, falou emocionado da miséria do mundo e de como pretendia acabar com todo sofrimento. Enrolando o cabelo dela entre os seus dedos, confidenciou que há muito tempo sonhava encontrar uma alma gêmea com quem pudesse compartilhar seus segredos e sua vida. Ela acreditou nele. Ah, os olhos dele eram tão azuis, tão misteriosos. Seus cabelos tão rebeldes, insistindo em cair sobre os olhos dele todo o tempo… Sua boca era tão sincera, tão madura, tão carente de beijos… Ela corou pensando nisso porque não tinha nenhuma experiência com amor. E aquele homem parecia tão sofisticado, tão preparado. Ah, aquele homem… Ele a seduziu com palavras gentis, destinadas a navegar até a sua alma ingênua e deixá-la vulnerável. Levou-a pra casa e a intoxicou com vinho e mãos experientes. Estuprou-a sem perdão, deixando seu vestido em trapos, sua pele com arranhões, seus olhos encharcados com lágrimas, sua garganta seca depois de tantos gritos inúteis por socorro. Atirou o corpo dela, quase sem vida, na rua, deliciando-se em contemplar o medo nascendo no rosto outrora infantil. Os olhos dela mergulharam nos dele em busca de uma explicação. Mas ele riu e fechou a porta do edifício, deixando-a do lado de fora. O porteiro a encontrou jogada na calçada como uma manequim sem vida e quis dar-lhe a mão que ela recusou prontamente, quem sabe por orgulho ou por medo ou por confusão… O motorista de táxi tentou falar com ela, mas ela se afundou no assento imersa num recém-nascido pavor. Já em casa, correu para o chuveiro e ficou embaixo da água sem se mexer, lágrimas se misturando com a água, pensamentos voando na cabeça como pássaros feridos. Meu Deus! Como ele pôde fazer isso comigo? Como pôde me trair? Como pôde ser tão ruim, tão traiçoeiro, descer tão baixo? Olhei nos olhos dele e vi o céu, mas ele me levou pro inferno. Pensei que tivesse encontrado amor, mas ele tinha apenas crueldade para me oferecer. Como pude ser tão inocente pra cair nesta armadilha? Eu acreditava em castelos, em príncipes, em amor. E agora, e agora… Na próxima festa, quando ela entrou na sala os homens se imobilizaram com os copos no ar, interrompendo a conversa, conscientes apenas da magia que a envolvia. Ela andava devagar, a cabeça levantada com orgulho e, ao mesmo tempo, modéstia. Seus cabelos longos e cacheados lembravam folhas douradas balançando ao vento. Seu rosto, aberto num sorriso sensual que realçava as formas perfeitas da sua boca, era malicioso e trazia uma sugestão de pecado. Nos seus olhos eles podiam ver toda a escuridão do mar, os perigos do mar, o terror do mar num dia de tempestade. No seu corpo, longo e esguio, insinuante num vestido curto e preto como a noite, eles podiam vislumbrar todos os prazeres de um baú de tesouros já violado. Ele estava lá e também a viu. Por um momento pensou em se sentir culpado, triste. Mas afastou esses pensamentos e ficou contente por ela. Ela havia perdido a inocência para sempre e ninguém conseguiria magoá-la novamente. Ela está lá, na festa, mas a alma dela estava trancada numa fortaleza onde ninguém poderia atingi-la. Ele tinha feito o seu dever. Ele a tinha protegido. |
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