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Estamos Nus
poesia [ ]

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por [Duquinho ]

2009-12-28  |     | 






Estamos nus!(*)
Antonio Carlos Duques

Estamos nus! Estamos nus! Simplesmente.
Vos surpreende que nosso método, nosso fim,
Nosso tempo, nossa história, nossa morte,
Seja simplesmente a mais pura carne,
Regada aos molhos da inocência!
Encontro culinário de dois continentes de corações gelados,
Gerações opostas, altar de sexo e literatura,
Regadas aos molhos da experiência.

Reunidos os fantasmas ancestrais de nossos mundos obscuros,
Exorcizá-los num só delírio de luxúrias,
Círculo mágico de crânios e sangue de toda opressão,
Dança medieval de vampiros e sacis-pererê das minhas matas,
Fundir-lhes as taras, todas românticas, bebes meu sangue! devoro tua alma!
Agora somos apenas heróis a destruir muros de currais.
Quantos currais! Nações sombrias, curvadas sob a dúvida da morte,
Nosso beijo redime a escravidão, que todos beijem todos!

Dor e prazer, duvida e certeza, amalgamas de preconceitos,
Tua adolescência marinada nas águas puras da liberdade,
Minha cabeça pousada em teus seios, a segredar mistérios,
De nova humanidade que fundamos, punhos abertos,
Almas abertas, sonhos que marcham nas cadências dos ventos,
Nossas gargalhadas proclamam: destruamos todos os muros!
Toda escravidão! Todo preconceito! Todo ídolo!
Agora sim, o sonho apenas começou, o sonho apenas começou!

Menina, sabia menina, louca menina a perseguir universos,
Carícia genética gerando mitos em cada gesto,
Sensualidade, livro sagrado, a prescrever ritos de primavera,
Mãos reunidas em lentas coreografias, auroras de êxtases.
Gemidos sinfônicos, cantos de agonia, ode ao sexo!
Nem submissão nem revolta, todos iguais perante as leis dos visionários,
Agora nossos gritos se fundem num hino à liberdade,
Estamos nus! Estamos nus! Morreu toda opressão!


(*)Toda opressão, toda escravidão, toda fronteira, todo curral, funda-se na dúvida da morte. Hegel dizia que o escravo é aquele que renunciou ao combate mortal e aceitou penar sem outra vantagem que a de sobreviver.
Os fantasmas ancestrais dos nossos mundos bebem nosso sangue e nossa alma.
Há no interior de nós uma bela menina a perseguir sonhos de liberdade sem a qual nenhuma justiça é possível. Suas carícias são arrebatamentos e êxtases, mas conduzem ao fim de todo limite, partilhado na primavera sem fim do beijo. Já não somos mais as vacas tranqüilas de Heidegger a pastar em campos de sangue e crânios.
Allen Ginsberg dizia que poesia é nudez. Pois que a vida precisa de nudez, não mera transparência. Que nos dispamos e nos beijemos todos!
Sigam-se a si mesmos!
Pois que há vidas cujo tempo, história e morte, são como livros sagrados. Estes proclamam: Estamos nus!






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